O ismo do Google

Nessa imensa selva que é a Internet, uma entidade existe que supervisiona, regista e ordena o caos que pauta o diário frenesim que é criado pelos milhões de dedos humanos que batem nas teclas das suas tecnologias. Essa entidade é o Google, anteriormente um simples website, hoje em dia elevado ao estatuto de Deus.

Graças a Matt MacPherson, o criador do Googlismo e da Igreja do Google (http://www.thechurchofgoogle.org), este passou a ser um adversário a considerar nessa luta das entidades divinas perpetuada não por elas próprias, mas pelos seus leais seguidores. Porque não basta acreditar sozinho, uma religião só faz sentido se todos acreditam, e para os que não acreditam... para esses... algum castigo é celeramente providenciado. Mas é nestes pontos que a igreja do Google se mostra extraordinariamente diferente, não promete castigo caso não tenham fé na sua entidade máxima, mas um simples agoiro de más procuras na internet. E é com estas e com outras auto-proclamadas diferenças que o googlismo revela a sua natureza política e irónica de anti-religião.

Listando 9 provas quase tão dogmáticas como só as religiões milenares conseguem ser, esta igreja consegue fundamentar os seus ideais baseando-se nos paradoxos e teorias circulares mais cómicas de todas as outras religiões. Se quisermos procurar a entidade no nosso planeta que melhor corresponde à definição de Deus, o Google é de facto o mais próximo que existe a algo omnisciente, omnipresente e imortal. Mais uma vez, a diferença abonatória é o facto de o Google ter uma cara, ser ao mesmo tempo físico e imaterial. Se pregarmos ao Google, ele ouve, registra e ainda responde.

Frederico de Almeida

Os 9 dogmas

" Dogma Nº 1 - Google is the closest thing to an Omniscient (all-knowing) entity in existence, which can be scientifically verified. She indexes over 9.5 billion WebPages (...).

Dogma Nº 2 - Google is everywhere at once (Omnipresent). Billions of indexed WebPages hosted from every corner of the earth. (...)

Dogma Nº 3 - Google answers prayers. One can pray to Google by doing a search for whatever question or problem is plaguing them. (...) Ask Google and She will show you the way, but showing you is all She can do, for you must help yourself from that point on.

Dogma Nº 4 - Google is potentially immortal. She cannot be considered a physical being such as ourselves. Her Algorithms are spread out across many servers (...) Google can theoretically last forever.

Dogma Nº 5 - Google is infinite. The Internet can theoretically grow forever, and Google will forever index its infinite growth.

Dogma Nº 6 - Google remembers all. Google caches WebPages regularly and stores them on its massive servers. In fact, by uploading your thoughts and opinions to the internet, you will forever live on in Google's cache, even after you die, in a sort of "Google Afterlife".

Dogma Nº 7 - Google can "do no evil" (Omnibenevolent). Part of Google's corporate philosophy is the belief that a company can make money without being evil.

Dogma Nº 8 - According to Google trends, the term "Google" is searched for more than the terms "God", "Jesus", "Allah", "Buddha", "Christianity", "Islam", "Buddhism" and "Judaism" combined. God is thought to be an entity in which we mortals can turn to when in a time of need. Google clearly fulfils this to a much larger degree than traditional "gods" (...)

Dogma Nº9 - Evidence of Google's existence is abundant. There is more evidence for the existence of Google than any other God worshiped today. Extraordinary claims require extraordinary evidence. If seeing is believing, then surf over to www.google.com and experience for yourself Google's awesome power. No faith required."

Todos estes dogmas são exemplo da ironia e do sarcasmo que suportam esta religião. Como que nascendo das insuficiências das religiões comuns, aproveita-as mesmo para conseguir provar a divindade do motor de pesquisa. É antes de mais, um ataque declarado à falta de conhecimento que sempre potenciou a propagação das religiões humanas. Vão ainda mais longe, respondendo aos ataques (o chamado hate-mail) e aos argumentos que lhes são enviados, como por exemplo:

"This is blasphemy! How dare you mock religion like this? The Church of Google believes we should be tolerant of everyone's beliefs, provided said beliefs hurt no one. The statement above is not one of tolerance. In fact, the statement above shows two of the deadly sins: Anger and Hubris, as well as breaking some of the cardinal rule of Christianity as taught by Jesus: Love Thy Neighbor, and Turn The Other Cheek. Strange then that we, a "parody" religion, follow the philosophy of one of the most popular religions more closely than many of its followers."

Somente nesta resposta podem ser encontradas várias provas da profunda natureza anti-religiosa deste movimento, o Googlismo pode ser definido com um provérbio - Se não os podes vencer, junta-te a eles.

Diogo Mendes-Pinto

A piada da coisa

Por muito séria que seja a fachada, a igreja do Google não esconde a intenção de gozar com as demais religiões. Notamos isto com todas as apropriações, usurpações e deturpações que o Googlismo oferece. Além do fundo dogmático apresenta ainda outras semelhanças, como os 10 Mandamentos que, neste caso, vão desde honrar os irmãos humanos a proibir terminantemente o uso de qualquer outro motor de busca que não o divino Google, como também um feriado que pode ser considerado o natal do Googlismo, 14 de Setembro, dia em que o Google nasceu, ou melhor, dia em que foi registrado na Internet.

O satanás desta religião é, muito obviamente, a Microsoft, porque se atreveu a criar um sistema de procura para competir com o poderoso Google. A santíssima trindade? Essa é fácil.. A internet, o Google e o browser. Não existe um ponto que não tenha sido pensado, e no fórum criado para os seguidores interagirem com os padres, é exactamente isso que podemos ver a acontecer, o exercício de pensar e debater. E sim, é isso mesmo que está a pensar, também têm padres, e para poder ascender a esta privilegiada posição dentro da Igreja do Google, basta inscrever-se no fórum, participar nas discussões e ajudar a propagar esta fé e a sua mensagem algo sarcástica, um pouco cáustica, mas fundamentalmente irónica.
Guilherme Araújo